A pandemia acelerou o processo de estigmatizar as “teorias conspiratórias” por alas da esquerda progressista. No Brasil, se massificou com a transmissão da CPI da Covid, a expressão passou a se associar ao negacionismo.
Prefiro falar em fantasia conspiratória (“conspiracy fantasy”), popularizada por Florian Cramer e Wu Ming 1. Dessa forma um “plano de satanistas pedófilos composto por George Soros” é uma coisa, e o “financiamento de organizações com objetivo de manutenção de políticas e governos neoliberais por George Soros” é outra.
Me lembro das vezes que lia ou via Richard Stallman falando sobre não usar cartão de crédito porque as operadoras de cartão rastreavam e registravam todas as nossas operações e hábitos. Muito antes de Snowden revelar todo o poder de espionagem da NSA, apoiada por uma rede e infraestrutura de empresas privadas. Ainda que pensasse ser okay a preocupação, achava exagerado. Hoje é um dos assuntos mais bem documentados pela imprensa e ativistas.
Confundir algo não provado, mas que há indícios de que existe (teoria conspiratória), é diferente de suposições que fogem da realidade (mitos ou fantasias conspiratórias). Claro que é uma linha tênue, porque nem tudo é obviamente lorota tipo “Pizzagate”, mas banalizar uma possível verdade detrás de uma teoria conspiratória é estupidez. O envolvimento da CIA nos golpes da América Latina por anos foi tratado como teoria conspiratória, assim como a espionagem em massa de civis pelo governo dos EUA.
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